Nessa guerra de Israel x Palestina eu amaria ficar alienada a tudo, como eu queria.
Queria não ter visto as imagens que recebi, sem tarjas ou ofuscação das crianças decaptadas por terroristas cruéis e radicais. Queria ter a capacidade de não perceber as roupinhas e as fraldas sujas de sangue e de não refletir que hoje, logo hoje, outras crianças estão sendo amadas, homenageadas, presenteadas.
Queria poder imaginar que é possível torcer para um lado apenas dessa guerra, como se houvesse um vilão e um mocinho, acreditando que os mocinhos sempre vencem no final.
Pra que entender que nem todo palestino é do Hamas e ficar com o coração apertado por cada comemoração de contra ataque israelense?
Eu queria tanto poder exibir um lindo pôr do sol em meio à escuridão, um maravilhoso buffet diante da fome, da sede, da falta de energia, mesmo que sem maldade.
Eu até preferia acreditar que para ser resgatada de uma guerra bastava ter um bom prefeito de Sorocaba ou um competente empresário da área do turismo de uma pequena capital.
Eu queria não questionar Deus, chorando, nos meus clamores da madrugada.
Queria praticar a caridade sem me envolver com as pessoas por trás das histórias.
Ah! Como eu queria ser religiosa ao ponto de obedecer apenas, crer apenas, sem qualquer questionamento, posicionamento contrário.
Meu sonho é não conseguir identificar rapidamente mensagens hipócritas, jornalismo mercenário, discursos capitalistas em meio à miséria humana, sermões desconectados do que realmente importa para Deus e não para os homens.
Queria não ter aversão pelos alienados, pelos não empáticos, como eu queria… Se cada um responde por si, pra quê se incomodar?
Queria conseguir ficar em cima do muro pela “paz”. Ver alguém sendo violentado e não me meter.
Eu queria poder dizer: “eu não tenho nada a ver com isso”, mesmo sabendo que quem se omite, permite. Minha vida seria mais tranquila, mais fácil.
Eu tenho inveja de gente assim, que consegue o que para mim é impossível É isso, eu tenho inveja..
